Traficante Peixão já foi condenado pela Justiça por suspeita de ordenar destruição de terreiros no RJ

Traficante chefe do Complexo de Israel ainda responde a outro processo pelas mesmas acusações. Câmara Criminal o absolveu de processo em Duque de Caxias. Denúncias fizeram polícia abrir nova investigação após fechamento de igrejas católicas na Zona Norte.

O traficante Alvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, responde a pelo menos dois processos na Justiça por ordenar a destruição de templos de religião de matriz africana na Baixada Fluminense. Ele foi condenado em uma dessas ações. O processo resultou na expedição de um dos seis mandados de prisão contra ele, que está foragido.

Nesta semana, Peixão foi acusado de ordenar o fechamento de igrejas católicas na Zona Norte do Rio. A região dominada por ele é conhecida desde 2020 como o Complexo de Israel.

No processo em que é acusado de ordenar a destruição dos terreiros, Peixão foi condenado em março de 2023 a 6 anos e 6 meses de prisão, juntamente com outro traficante, Bruno da Conceição Guimarães.

Conhecido como “Bigode”, ele é apontado como o criminoso que era chefe do tráfico na região do Buraco do Boi, em Nova Iguaçu. Bruno foi condenado a 6 anos e 9 meses de prisão.

Ambos foram condenados por violação de domicílio, dano qualificado com violência à pessoa ou grave ameaça, furto qualificado e crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. A defesa de Álvaro entrou com recurso, assim como o Ministério Público.

A defesa de Peixão alegou ausência de fundamentação na condenação, e o MP pediu uma punição mais rigorosa.

Pelo menos três investigações sobre a destruição de templos de religião de matriz africana foram abertas contra Alvaro Malaquias Santa Rosa pela Delegacia de Combate a Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) da Polícia Civil. A especializada também apura as denúncias de fechamento de igrejas católicas.

A defesa de Álvaro afirma que ele já foi absolvido em outro processo de invasão de propriedade de templo religioso, por decisão de desembargadores da 8ª Câmara Criminal do TJ do Rio, de um caso que teria acontecido em 2019 no bairro Parque Paulista, em Duque de Caxias.

Ataque em Nova Iguaçu
Em 2019, as ações eram realizadas por um grupo denominado como “Bonde de Jesus”, o que já indicava a orientação religiosa de Peixão. Ele pregava em uma igreja evangélica, como relatou o g1.

O traficante evangélico domina até hoje as regiões de Parque Paulista e Barro Vermelho, em Duque de Caxias, onde também foi registrado um episódio semelhante, além do Buraco do Boi, em Nova Iguaçu. As atividades dos terreiros foram proibidas a mando de Peixão, segundo as investigações da Polícia Civil e do Ministério Público.

Em 2020, durante a pandemia, ele criou o chamado Complexo de Israel, que compreende diversas comunidades na Zona Norte do Rio. Em destaque, a estrela de Davi, um símbolo judaico também muito utilizado por determinadas vertentes evangélicas.

Em 2019, Peixão foi indiciado, denunciado e se tornou réu por ter ordenado a destruição de um terreiro de candomblé em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, de acordo com as investigações. Quatro traficantes foram armados ao local e depredaram eletrodomésticos e artigos religiosos.

Enquanto faziam isso, segundo a denúncia do Ministério Público, os traficantes gritavam que “macumbeiros (sic) serão expulsos por ordem do tráfico”.

Outros ações semelhantes já teriam ocorrido antes, em 2017, no mesmo terreiro. O pai de santo do local, então, foi reclamar com Bruno da Conceição Guimarães, o “Bigode”, traficante da favela Buraco do Boi denunciado e condenado junto com Peixão.

“Bigode”, então, teria dito que “macumba ele não queria ali’, e que estava agindo sob ordens de Peixão. O pai de santo então procurou outro criminoso, que garantiu que as cerimônias fossem realizadas no local até 2019, quando morreu.

Depois disso, os traficantes passaram a ir até o local diversas vezes e ocuparam o local, mesmo com ações das polícias civil e militar na região próxima ao Buraco do Boi, em março e maio de 2019.

Durante as investigações, os próprios autores da invasão ao terreiro confirmaram que as ordens vieram de Peixão, de acordo com as alegações finais do Ministério Público no processo. Chamado para audiência na Justiça do Rio, “Peixão” já estava foragido e não compareceu.

“Desta feita, restou provado que Bruno era o chefe que comandava o Buraco do Boi a mando do líder da facção criminosa Álvaro Malaquias, atuando o primeiro sob ordens do segundo, e seus traficantes locais do Buraco do Boi, como soldados, cumprindo ordens diretas de Bruno”, afirmou a promotora titular da Promotoria de Justiça junto à 1a Vara Criminal de Nova Iguaçu.

Casos em Duque de Caxias
No bairro Parque Paulista, em Duque de Caxias, um proprietário de um Ilê (local onde é praticado o ifá, religião de origem nigeriana) afirmou que sofreu diversas ameaças de traficantes, que o estariam obrigando a fechar as atividades do terreiro para construírem uma igreja no lugar.

O homem disse que foi chamado de “filho do capeta” por traficantes, que disseram ter recebido ordens de Peixão para fechar todos os terreiros da região. O lugar foi chamado pelos criminosos de “casa do demônio”.

Além de Álvaro, que teria ordenado o ataque, também se tornou réu o traficante Luan da Silva Soares. Segundo as investigações, ele contou com a ajuda de um adolescente para ameaçar de morte o dono do local e seus funcionários.

Os integrantes do templo foram proibidos de andar de roupas brancas, típicas de religião de matriz africana, no bairro Parque Paulista.

O caso foi denunciado pelo Ministério Público em janeiro de 2021, mas só em 2024 a justiça do Rio ratificou o recebimento da denúncia. Uma audiência de instrução e julgamento foi marcada para o dia 16 de setembro.

A defesa de Peixão alegou em suas alegações finais que há ausência de evidência contra Álvaro nesse e em outros casos de invasão de domicílio e depredação de terreiros de religião de matriz africana.

Uma outra investigação foi aberta, contra uma situação que ocorreu no mesmo bairro. Neste caso, Álvaro foi absolvido na Justiça do Rio de todas as acusações.

Carlos Alves

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